Nem parece que
são só os americanos que vão às urnas nas eleições presidenciais dos Estados
Unidos. Mais do que em qualquer outro país, o mundo inteiro fica de
olho em cada detalhe da campanha — e apreensivo em relação ao resultado. Tudo isso porque o
ocupante do Salão Oval, na Casa Branca, tem um impacto significativo na
política e economia global. A dúvida é: qual (e quão grande) ele será?
A revista Época e
o canal G1 Ouviu vários especialistas acompanhe abaixo:
Economia e comércio
Vários aspectos devem ser levados em conta para
responder à questão.
Um deles é a maneira como os dois candidatos e seus partidos encararam
a economia e as relações comerciais entre os Estados Unidos e o resto do mundo.
O Brasil se beneficiaria de uma maior abertura dos EUA a produtos
brasileiros. Hoje os EUA é o segundo maior parceiro comercial do Brasil,
atrás da China. Historicamente, o Partido Republicano, de Trump, defende o
livre comércio e se opõe a medidas protecionistas que ajudassem empresas
americanas a competir com estrangeiras.
Assim, um candidato republicano tenderia a ser melhor
para os interesses econômicos do Brasil do que um candidato democrata.
Mas Trump inverteu essa lógica ao propor renegociar os acordos
comerciais firmados pelos EUA para preservar empregos no país e reduzir o
déficit americano nas transações com o resto do mundo.
Se o empresário colocasse essas ações em prática, o Brasil poderia ser
prejudicado.
A professora de Relações Internacionais da ESPM Denilde Holzhacker
afirma que as consequências seriam imediatas e negativas, e causariam o que
muitos economistas então chamado de "efeito Trump".
"Como ele fez propostas muito amplas e populistas, os efeitos
econômicos dessas medidas podem ter impacto grande e gerar um caos na economia
- principalmente porque ele é contrário ao livre comércio, se mostrou
protecionista."
Mas Holzhacker faz uma ressalva sobre a aplicação dessas medidas.
"Agora, para saber o quanto ele vai conseguir implementar disso,
vamos ter que esperar. Ele é tão imprevisível e tudo fica tão indefinido que
prejudica muito o cenário econômico."
Prejuízos globais
Como membro da comunidade internacional, o Brasil será afetado fortemente pelo resultado. “[A vitória de Trump] é um sinal de que as coisas estão mudando mais rápido do que a gente pensava”, diz Carlos Gustavo. Não ratificar acordos climáticos, proibir a entrada de certos grupos nos EUA e romper acordos de livre-comércio são algumas das ações que teriam impacto no mundo todo. “A possibilidade de um presidente Trump cumprir suas promessas na política externa e mesmo interna tem um potencial de desestabilização da geopolítica mundial, que fatalmente afetaria o Brasil”, afirma Carlos Eduardo Lins da Silva.Relação bilateral
Para Carlos Eduardo Lins da Silva, livre-docente em comunicação pela USP e especialista em política americana, o resultado pode não fazer muita diferença do ponto de vista de relações bilaterais. Ele atribui três razões a isso. Primeiro, porque as relações dos dois países estão muito bem enraizadas. “Sempre foram fortes em razão de valores culturais e políticos. E se cristalizaram com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial”, afirma. “É uma relação que não tende a se prejudicar por causa de um ocupante da presidência num país ou no outro, por mais disparatados que sejam os valores momentâneos dos dois presidentes entre si”.
O segundo motivo é justamente o fato
de que o Brasil nunca esteve entre as prioridades máximas da política externa
norte-americana. Curiosamente, isso é algo positivo. “Para eles, as prioridades
mais altas sempre são aqueles países que apresentam mais ameaça para a
segurança nacional ou estabilidade mundial. E o Brasil é um país tradicionalmente
pacífico, que não tem armas nucleares, está em paz com os seus vizinhos e não
tem grandes divisões internas. ” Há uma terceira razão: os laços que unem
Brasil e EUA são muito mais fortes na sociedade civil do que entre governos. Há
um contato direto que não depende de ações dos governantes.
“É interessante observar que, nessas
eleições, o Brasil sequer foi mencionado”, lembra Carlos Gustavo, professor de
relações internacionais da PUC-SP. O especialista aponta que ao comparar o
governo Bush e o governo Obama não houve muita mudança na política externa no
que se refere ao Brasil, embora sejam dois presidentes muito diferentes entre
si. “Alguns até dizem que, durante o governo Bush, a relação era melhor.”
O relacionamento com o Brasil
estremeceu mais recentemente em 2013, quando se tornou público o escândalo de
espionagem nos Estados Unidos. Na época, foi descoberto que o país tinha como
alvo até nações aliadas, como o Brasil. A então presidente Dilma Rousseff
chegou a cancelar uma visita que tinha agendada ao país.
“A partir de então, você tem um
período entre 2013 e 2014 em que nenhum dos dois lados quer ceder”, diz Geraldo
Zahran, professor de relações internacionais da PUC-SP. Do lado dos EUA, porque
o Brasil não era prioridade. E, do lado do Brasil, porque Dilma tinha problemas
maiores para se preocupar, como sua reeleição em 2014. No primeiro ano do novo
mandato, Dilma vai aos EUA, mas “a agenda já é diferente”, diz Zahran. “Por
causa da agenda doméstica no Brasil, dos desafios constantes ao governo Dilma
que a gente viveu. ”
Com a chegada de Michel Temer ao
poder, no entanto, pautas que vinham congeladas podem ser retomadas. E é disso
que vai depender a relação com os Estados Unidos. Não se trata só de quem está
do lado de lá — neste caso, Donald Trump —, mas também da iniciativa e
disposição de quem estiver aqui. O país teria de mostrar interesse em se
aproximar e adotar uma postura de protagonismo na América Latina.
Imigração
Uma das questões mais relevantes — e que distinguia os candidatos — nesta eleição era a posição deles em relação a imigrantes ilegais. E brasileiros que moram nos EUA em situação irregular serão afetados. No dia 16 de junho de 2015, ao lançar oficialmente sua campanha à presidência, Donald Trump iniciou o que seria uma longa série de declarações polêmicas contra latinos. Naquele dia, o bilionário fez sua mais famosa proposta: construir um muro na fronteira entre EUA e México.
“Quando se falava em América Latina
[durante a campanha presidencial], era mais em relação à imigração. Esse é
um tema que afeta lateralmente o Brasil. Afeta mais o México e os países da
América Central”, destaca Carlos Gustavo.
E a aversão a questões de imigrantes
não é só coisa de Trump, mas um posicionamento mais amplo do partido. “[No
governo de Barack Obama], houve algumas iniciativas de imigração aprovadas pelo
Senado que foram paralisadas na Câmara por ação republicana”, lembra Geraldo
Zahran.
Para edição desse Artigo foi utilizada e extraido conteúdo das seguintes fontes:
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